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Disfunção sexual e vaginismo

Publicado em: 25.03.2014

A disfunção sexual afeta 49% das mulheres brasileiras e é caracterizada por problema em um ou mais estágio(s) da atividade sexual.

O que é vaginismo?

O vaginismo é causado pela contração involuntária dos músculos perineais, mais especificamente os músculos Pubococcígeos que envolvem o canal da vagina. Com a contração destes, o óstio vaginal diminui de diâmetro muitas vezes deixando inviável o acesso à vagina, seja ele no exame ginecológico, com um espéculo ou com a penetração do órgão sexual masculino.

Ainda não se sabe a etiologia do vaginismo (o que causa a contração involuntária dos músculos vaginais), mas a maioria das mulheres com o problema apresentam uma ansiedade fóbica que antecede a penetração vaginal. De uma forma geral, o vaginismo é motivado por combinações de gatilhos físicos e não-físicos que levam o corpo a antecipar a dor. Com essa reação, o corpo automaticamente contrai os músculos vaginais, fechandos-e para se proteger de algum "dano". O sexo se torna doloroso e/ou desconfortável, e a penetração pode ser impossível ou difícil, dependendo da severidade do caso, respectivamente classificadas como vaginismo primário ou secundário. Com as tentativas de sexo, qualquer desconforto resultante ajuda a reforçar o reflexo da contração, intensificando-a. O corpo experiência a dor crescente e reage "apertando" ainda mais os músculos, em um círculo vicioso, criando o "ciclo da dor".

Causas não físicas:

 

  • ansiedade
  • estresse
  • problemas de relacionamento com o parceiro sexual
  • eventos traumáticos
  • experiências ruins de infância.

Causas Físicas:

 

  • problemas de saúde (infecções urinárias ou vaginais recorrentes, vulvodínea, cistos, doença inflamatória pélvica, endometriose e etc)
  • parto normal com trauma (episiotomia, o "corte" mal cicatrizado, parto com fórceps, ruptura muscular na saída do feto)
  • mudanças hormonais como por exemplo a menopausa (a queda do hormônio estrogênio, por exemplo, faz com que a mucosa vaginal fique menos espessa e, consequentemente mais friável, sensível)
  • desconforto temporário (provenientes de preliminares insuficientes
  • falta de desejo sexual e/ou lubrificação)
  • abuso sexual
  • medicações que podem ter efeitos colaterais sob a pelve.

Queixa clínica de vaginismo:

  • dor na relação 
  • impossibilidade de ter relações sexuais por penetração
  • dificuldade em sentir prazer durante a penetração
  • anorgasmia
  • baixa libido
  • falta de lubrificação genital.

Tratamento:

O vaginismo tem tratamento que pode reduzir bastante os sintomas, melhorando a qualidade de vida e satisfação sexual da paciente ou, em muitos casos, curá-la totalmente. É importante que seja feita uma avaliação muito completa, pois por se tratar de um quadro multicausal, é comum apresentar problemas de aspectos emocionais, traumáticos e até infecciosos. Deste modo, é preciso que a paciente seja tratada por uma equipe multiprofissional, incluindo psicólogo ou psiquiatra (para tratar as causas não-físicas), ginecologista (para excluir possíveis infecções ou curá-las, se for o caso) e um fisioterapeuta voltado à saúde da mulher.

Tratamento fisioterápico:

O campo de fisioterapia em saúde da mulher é ainda, pouco difundido. É comum que as pessoas associem à fisioterapia um tratamento ortopédico como o de joelho ou coluna, ou – quando muito – de setor cardio-respiratório ou neurológico. A fisioterapia aplicada à uroginecologia é voltada para o tratamento de incontinência urinária e disfunções gerais do assoalho pélvico ou períneo, entre elas, as disfunções sexuais, como o vaginismo. Uma vez que o problema neste caso é essencialmente o mal funcionamento (contração excessiva sem relaxamento suficiente) de um músculo, este é um campo de tratamento fisioterapêutico.

São inúmeros os recursos fisioterapêuticos para tratar o vaginismo, e cada mulher com vaginismo pode possuir um histórico diferenciado, o que pode alterar o tratamento de mulher para mulher. Contudo, é comum no início do tratamento:

  • que os coitos sexuais por penetração sejam suspensos (por um tempo determinado) visando quebrar o ciclo de penetração-dor-contração.
  • fazer exercícios para obter ou recuperar seu auto-controle sobre o funcionamento muscular:  é importante que a mulher passe a se conhecer melhor e entender a anatomia e funcionamento da sua genitália, de forma a melhorar sua consciência corporal (motivo pelo qual, muitas vezes, oriento minhas pacientes a procurarem algum exercício físico introspectivo como pilates, yoga, ginásticas orientais ou alongamento).
  • aprender a noção de contrair e relaxar os músculos perineais é uma etapa importante do processo, já que o foco é aprender a relaxar, e sem contração não há relaxamento. Esta é uma etapa geralmente introduzida com cautela, pois o problema dessas mulheres é, justamente, contrair em excesso, o que não pode ser reforçado indiscriminadamente, sem que haja o foco do relaxamento, etapa de aprendizagem essencial para a evolução da paciente.

 

Na etapa de aprender a relaxar, existem alguns meios que permitem a paciente compreender como fazê-la:

  1. comando verbal da fisioterapeuta
  2. visualização da ação muscular no espelho
  3. aparelhos perineais que atuam como biofeedback (ou seja, demonstram a mulher através de movimento de uma haste, sinal sonoro ou o subir e descer de uma luz) são retornos que a paciente tem para compreender e aos poucos utilizar conscientemente o músculo para o tão almejado relaxamento.

Com o decorrer da terapia, uma vez que se tornar possível uma penetração mínima de uma ponta do dedo ou um eletrodo fino (dispositivo cilíndrico pelo qual se faz eletroterapia – "conhecido popularmente como choquinho"), a eletroterapia intracavitária (colocação do eletrodo dentro da vagina) tem efeitos muito positivos para a dessensibilização da vagina, que nessas pacientes é normalmente hipersensível, e consequente redução da dor. Mais uma vez temos de quebrar aquele ciclo ‘dor-contração’.

É importante que a paciente com vaginismo entenda o processo terapêutico do seu tratamento e se comprometa a realizar algumas tarefas solicitadas pela fisioterapia para ser realizadas em casa. Como antes citado, o coito por penetração pode ter de ser temporariamente interrompido , e também existem alguns exercícios como a auto-massagem perineal para dissolução de pontos de tensão muscular e exercícios de Kegel, para fortalecer a musculatura e melhorar sua função de contrair e relaxar totalmente.

Quando a paciente é liberada para ter relações novamente, os passos ainda são delineados. Normalmente é prescrito que elas utilizem uma pomada analgésica própria para a mucosa genital, para que o fato de a paciente entender que ela voltará a tentar a anteriormente dolorida penetração não permita com que ela corra o risco de sentir desconforto e ativar novamente o ciclo dor-contração. Também normalmente se instrui o "passo-a-passo" de como ela deverá ter as primeiras relações: é importante que a paciente esteja no domínio da atividade sexual para que ela não se preocupe com a penetração "antecipada" ou com a dor. Para isso, instruímos que ela esteja por cima do seu parceiro, e assim possa definir como e quando permitir a penetração do pênis na vagina, a intensidade e ritmo do ato, e até mesmo possuir a possibilidade de interrompê-lo, se necessário. Com o tempo, acompanhamos o "desmame" da pomada analgésica, até que a paciente tenha os coitos sem auxílio da medicação.

Por ser um campo pouco difundido, são poucas as mulheres que procuram a fisioterapia para tratar o vaginismo. Normalmente, quando o fazem, é sob encaminhamento de um profissional como médico ginecologista.

As mulheres devem procura a fisioterapia assim que tiverem duas ou mais tentativas de penetração frustradas ou dolorosas. Não é necessário que elas tenham ido ao ginecologista primeiro, uma vez que esta será uma etapa orientada pela fisioterapeuta de saúde da mulher. Normalmente, cidades que possuem faculdades de fisioterapia possuem programas públicos e sem custo de estágios em saúde da mulher que prestam o serviço. Em caso de interesse de atendimento particular, a mulher interessada deve procurar por uma fisioterapeuta que tenha a especialização de saúde da mulher.

Fisioterapeuta Marcela Grigol Bardin (crefito 3/159.026-F) - Graduada em fisioterapia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp – Campus Baixada Santista), especializada em Fisioterapia aplicada à saúde da mulher pelo CAISM – Unicamp e mestre em Tocoginecologia – Unicamp.


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